Bolsonaro lança Médicos pelo Brasil com salário de até R$ 31 mil
O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Saúde, Luiz Henrique
Mandetta, anunciaram nesta quinta-feira, 1º, o programa Médicos pelo
Brasil, que vai substituir o Mais Médicos. No total, terá 18 mil vagas,
das quais cerca de 13 mil em cidades com dificuldade de acesso a médico.
A proposta, definida por Medida Provisória e que dependerá de aval do
Congresso, prevê a criação de uma carreira e uma agência reguladora,
além de salários de até R$ 31 mil no futuro, graças a bonificações.
O governo informou que pretende ampliar em cerca de 7 mil vagas a oferta
para municípios com “maiores vazios assistenciais”. Segundo o
Ministério da Saúde, 4 mil novas vagas serão prioritárias para as
Regiões Norte e Nordeste. A primeira seleção só ocorrerá após a sanção
da lei pelo presidente da República, o que Mandetta espera ocorrer até
novembro. O novo programa admitirá formados em universidades brasileiras
ou com diploma do exterior e profissionais estrangeiros.
Segundo Mandetta, o Mais Médicos, criado em julho de 2013, e o Médicos
Pelo Brasil funcionarão de forma paralela, e até nos mesmos municípios,
enquanto não cheguem ao fim os contratos do programa anterior. Na
quarta, o Ministério da Saúde renovou por mais três anos a participação
de profissionais brasileiros e estrangeiros do Mais Médicos.
Para ingressar no futuro Médicos pelo Brasil, será preciso passar pelo
processo seletivo. No caso dos médicos estrangeiros que trabalharam no
Mais Médicos, Mandetta explicou que, neste momento, só trabalharão
aqueles que revalidaram diploma. “Não há nada que trate sobre
revalidação de diplomas nem para estes médicos nem para os milhares de
brasileiros que foram fazer Medicina no Paraguai ou Bolívia”, afirmou o
ministro. Conforme ele, o governo não encerrará o Mais Médicos para
evitar “vazios” no atendimento.
Mandetta frisou que o novo vínculo de trabalho será mais atraente, já
que haverá carteira assinada, salários mais altos, estabilidade e a
possibilidade de escolha do local de trabalho conforme a classificação
na seleção. O foco continuará a ser cidades mais vulneráveis e a
formação de especialistas em Medicina de Família e Comunidade. Segundo o
governo, 4,8 mil municípios serão divididos em cinco categorias: rurais
remotos, rurais adjacentes, intermediários remotos, intermediários
adjacentes e urbanos.
O secretário de Atenção Primária à Saúde do ministério, Enzo Harzheim,
informou que o orçamento do novo programa em 2020 ficará na faixa de R$
3,4 bilhões, valor previsto em 2019 para o Mais Médicos. A expectativa é
de não superar este teto nos próximos três a quatro anos. Conforme o
Ministério da Saúde, o processo seletivo para contratação de médicos
será eliminatório e classificatório.
A contratação será feita no âmbito da Agência para o Desenvolvimento da
Atenção Primária à Saúde (Adaps), criada pela MP. A Adaps será um
serviço social autônomo.
Para ser contratado, o interessado precisará ter registro no Conselho
Regional de Medicina (CRM) e ser aprovado em um curso de formação
supervisionado de dois anos. Nesse período, o profissional receberá
bolsa-formação. Ao fim, será feita prova do título de especialista em
Medicina de Família e Comunidade.
Só quem conseguir o título é que poderá ser contratado pelo programa
Médicos pelo Brasil, com vínculo empregatício pelo regime da CLT. Isso
vai garantir, por exemplo, que os profissionais tenham 13.º salário e
mais estabilidade. O Ministério da Saúde informou que, nos dois
primeiros anos, os profissionais que fizeram especialização receberão
uma bolsa no valor de R$ 12 mil mensais, com gratificação de R$ 3 mil
para locais considerados remotos e de R$ 6 mil para atuação com
indígenas e localidades ribeirinhas e fluviais.
A contratação via CLT terá quatro níveis salariais com progressão a cada
três anos no programa. Também haverá gratificações. Assim, o primeiro
nível salarial poderá chegar a R$ 21 mil ou a R$ 31 mil, conforme a
localidade de atuação.
Guerrilha
Apesar da provável coexistência dos dois programas até o fim do seu
governo, Bolsonaro não poupou críticas ao Mais Médicos, que afirmou
virem desde a época em que era deputado federal. O presidente declarou
que o PT usava o povo “para espoliá-lo, na base do terror, por um
projeto de poder’.“A ideia era formar núcleos de guerrilha”.
Entidades elogiam mudanças, mas cobram estrutura
Para as entidades médicas, o novo programa corrige erros de concepção do
Mais Médicos, mas ainda é insuficiente para garantir que as regiões
mais remotas consigam atrair médicos. Elas destacam positivamente
sobretudo a forma de contratação, pelo regime de CLT. "Antes, o
pagamento era uma bolsa, não havia vínculo empregatício formal, direitos
trabalhistas. Agora, o médico vai ter direitos garantidos, um plano de
carreira. Para de ser uma solução temporária para ser um resolução a
longo prazo", diz Diogo Sampaio, vice-presidente da Associação Médica
Brasileira (AMB).
O segundo ponto destacado pelas entidades é que o programa prevê uma
seleção prévia dos profissionais. "Só podem participar aqueles que se
formaram no Brasil, quem tem CRM (registro no Conselho Regional de
Medicina) e além do mais vão ser avaliados por uma prova. Garante não
apenas que se tenha médicos, mas pessoas qualificadas", diz Willames
Bezerra, presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de
Saúde (Conasems).
O terceiro ponto destacado por eles é que o programa deve assegurar a
permanência dos médicos no programa e não que aceitem o cargo apenas no
início de carreira, por exemplo. "Com o plano de carreira, o médico vai
ver vantagem em mudar de cidade, levar a família. Antes o programa não
trazia segurança para o profissional de fato se dedicar e apostar na
mudança", diz Sampaio.
No entanto, eles destacam que ainda assim não há garantia de que todas
as vagas em áreas distantes ou mais pobres serão preenchidas e que, para
isso, é preciso mais investimento em toda a estrutura do atendimento de
saúde para que os médicos tenham boas condições de trabalho, além de um
salário atrativo. "O programa tem robustez e traz segurança, mas atrair
médicos para esses locais exige outras garantias também", diz Alberto
Beltrame, presidente do Conselho Nacional de Secretarias de Saúde
(Conass).
COLABOROU ISABELA PALHARES
Bolsonaro lança Médicos pelo Brasil com salário de até R$ 31 mil
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