Coité – Mãe vive a quase cinco anos recolhendo recicláveis para formar filho em medicina e conta com apoio de um irmão
A missão já está quase concluída, pois o estudante vai virar médico no segundo semestre de 2016.
Quem passa no fim do expediente comercial em Conceição do Coité de
segunda-feira a sábado, e até mesmo aos domingos, no caso de farmácias e
supermercados, percebe uma mulher de aproximadamente 45 anos, e um
homem com idade superior, recolhendo caixas de papelão de lojas e
farmácias, talvez não saiba que se trata da mãe e o tio de um estudante
do curso de medicina em uma faculdade na cidade de Aracaju, capital
sergipana. Eles cumprem essa rotina a aproximadamente cinco anos, e
dizem que a luta vale a pena e devem manter o trabalho por mais um ano,
quando acontece a formatura do futuro médico.
A mãe do estudante, Evanildes Silveira, pediu para não citar o nome
do filho a pedido do mesmo, motivo não divulgado, mas para evitar
qualquer tipo de especulação, o Calila antecipa que o pedido da não
exposição na mídia, não é por vergonha do trabalho da sua mãe e do seu
tio, pois, ele já emocionou pessoas que em algumas ocasiões viram o
quase médico empurrando o carrinho carregado de papelão em período de
férias ao lado da mãe e do tio.
A mãe disse ao CN que em 2010 ele havia passado no vestibular na
primeira tentativa, mas a falta de condições não permitiu que fosse para
a Universidade, “Até que tentamos, encontramos apoio de algumas
pessoas, mas esse negócio quando passa é logo chamado, e foi feito de
tudo mas não conseguimos a viagem. Pedi a ele que deixasse isso pra lá,
já que eu não tinha condição, ele parecia ter desistido da ideia, mas
continuou em cursinho e persistiu até que no ano seguinte conseguiu
ótima nota no PROUNI ficando em terceiro lugar”, contou emocionada.
Evanildes que trabalha como merendeira do Colégio Iêda Barradas
Carneiro (pelo PST) inclusive está a 90 dias sem receber salário, ela
que tem formação no antigo magistério e técnica em contabilidade, conta
que a missão de coletar papelão e outros reciclados teve inicio na
escola, onde sobra muita caixa de papelão, e uma colega dela disse que
aquele material reciclava, daí em diante começou a levar pra sua casa e
seu irmão José Carlos da Silveira “Carlinhos” providenciou o comprador,
“então começamos a empilhar o material em casa que mais parecia um
armazém, e depois vendia e o dinheiro era depositado para meu filho. Com
o tempo o pessoal começou a observar e muitos comerciantes ao me
encontrar informavam que tinha papelão e era pra eu ir pegar, situação
de pessoas ligarem pra meu celular mandado eu passar pra pegar. A missão
não é fácil, mas não posso mencionar nomes aqui de quem me ajuda para
não cometer injustiças, pois a grande maioria dos comerciantes colaboram
conosco avisando e tem até quem vá em casa levar, eu sou muito grata
pro isso” conta Evanildes.
Tio disse que o trabalho o tornou outro homem
Momento de grande esforço para amarrar a carga. |
José Carlos da Silveira, 59 anos, precisa de esforço dobrado para
executar a tarefa, pois foi vítima de dois graves acidentes que lhe
deixou com graves sequelas, mesmo assim cumpre a missão desde o início
ao lado da irmã e garante que tem sido uma ‘fisioterapia’ pra ele, que
antes não tinha ação, ficava sentado na porta de casa passando o tempo
fazendo cruzadinha e quando resolveu iniciar os trabalhos usava duas
muletas para se locomover. Hoje usa apenas uma e até anda sem ela.
Este é o semblante de Carlinhos na execução do trabalho. |
Carlinhos conta que o primeiro acidente foi em 1979, em 1991
outro, tendo fraturado o fêmur e a tíbia quando atravessava a Avenida
Suburbana em Salvador, só acordou no Hospital Geral do Estado – HGE.
Diante do segundo acidente passou a sofrer com hérnia de disco, artrose,
problemas no joelho, “foram 12 anos correndo atrás de tratamento e INSS
o qual passei 26 anos lutando para ganhar o status de aposentado, no
período de 79 a 2003”, contou Carlinhos.
Carlinhos disse que inicia os trabalhos às 07h e as vezes só para por
volta das 22h depois de várias idas e vindas do comercio para casa,
conta que o valor pago por quilo de papelão é R$ 0,18 (dezoito centavos)
e para alcançar o valor de um salário mínimo precisa vender mais de 4
mil quilos.
José Carlos disse com lágrimas nos olhos que faz tudo isso por muita
espontânea vontade, tem feito empréstimos em prol do sobrinho e já pensa
em não desistir após a sua formatura. “Já estou pensando seriamente em
não parar, pois aqui encontrei a boa fisioterapia que me tornou outro
homem, quem sabe se não crio uma empresa para comprar esse material
que hoje vendo?”
A UNIT. Faculdade Tiradentes – É onde estuda com uma bolsa integral
do PROUNI, o filho de Evanildes e sobrinho de José Carlos, ele cursa o
10º Semestre, mas ainda não tem nenhuma remuneração, é mantido com ajuda
da mãe e do tio com o trabalho de coleta de material reciclável, de uma
ajuda de custo da Prefeitura Municipal de Coité no valor de R$ 300,00
do Programa de Apoio ao Estudante – PAE.
OBS: falha nossa no vídeo quando trocamos o objeto usado pra
ajudar na locomoção de José Carlos. Por mais de uma vez é citado
bengala, útil ao deficiente visual, quando deveria citar muleta para
pessoas com algum tipo de deficiência após sofrer um acidente como é o
caso de Carlinhos.
Coité – Mãe vive a quase cinco anos recolhendo recicláveis para formar filho em medicina e conta com apoio de um irmão
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